É de Coleridge a afirmativa de que "nunca houve grande poeta
que não fosse ao mesmo tempo, profundo filósofo." Outra coisa nã teria sido JOAQUIM SEGHETO JÚNIOR,
que viveu mergulhado no seu mundo de idéias profundas e sensibilidade à flor da pele.
Não se diga tenha sido poeta excepcional ou grande poeta, na melhor expressão do termo.
Incoercivel foi, entretanto, sua obsessão pela poesia, que cultivava com devotamento, atividade espiritual
que não teria sido apenas entusiasmo dos primeiros tempos.
Sapateiro na juventude, músico e funcionário da antiga MOGIANA, nada mais soube fazer senão escrever versos.
Viveu deles e para eles, e fez da poesia o seu filtro de tristeza e de sonhos. Um exemplo, neste soneto de rimas ricas :
LIRIO AZUL
Sinto-o por onde passas, como o arminho,
e se falas, na voz que a boca emite,
sinto-o na dor, se choro, e no carinho
da brisa: é o teu perfume, num convite.
Se amo, sinto-o na embriaguez do vinho
delicioso do afeto, que o palpite
de mais querer-te aumenta, quando o espinho
acerbo da saudade faz que edu grite.
Sinto-o, como a romper-se das alfombras
de relva, alcatifadas, quando em sombras
se espalha a noite e sobre num adejo.
Sinto-o, no vácuo, ao sol da vida, extinto,
O sol da vida ao beijo mais faminto...
Sinto-o tanto, que não o sinto, vejo-o! "
Sofreu o poeta as mil mortes do desespero, fruto de sublime amor não correspondido.
Autodidata, conseguiu bem ilustrar-se em várias idiomas, inclusive o latim.
Deixou centenase centenas de poemas, nas páginas do jornal A CIDADE.
Aprendeu a arte tiporgráfica, para na oficina, compor os próprios versos que ele
mesmo compunha e o jornal estampava, semanalmente.
Autor da letra do HINO À BRODOWSKI, escreveu também um romance, ainda inédito, a que
deu o título de "SALVAS DE PRATA.". A familia do saudoso advogado brodowskiano, Dr. Felipe
Geraldo Scozzafave, a quem ele confiou a guarda dos originais, e um dos poucos
contemporâneos que bem emtenderam o poeta nas suas amarguras, conserva com carinho os originais do livro, e no coração a lembrança do dileto amigo.
Joaquim Seghetto Jr escreveu inúmeras poesias em italiano e espanhol e deixou publicado um livro, "A ESFINGE", no qual enfeixou formosos poemas
em portugues e frances.
Celibatário e recolhido em sua arte, foi-se consumindo aos poucos dia a dia, na sua humilde vida de sózinho, mal amado e incompreendido.
Nascido em Brodowski, em 12 de dezembro de 1902, de onde nunca se afastou, faleceu num pobre quarto de hospital, em Ribeirão Preto,
no dia 7 de julho de 1.965.
Tinha 63 anos de idade e um século de frustações e de ilusões perdidas.